8ª Oficina Pedagógica Online celebra o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento
O papel das escolas na prevenção das Doenças Negligenciadas foi debatido durante dois dias
de evento
A 8ª Oficina Pedagógica Online da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma) marcou, nos dias 09 e 10 de novembro, a celebração do Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU). Realizada em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), a oficina discutiu o tema “O papel das escolas na prevenção das Doenças Negligenciadas”.
Em 2021, a data do 10 de novembro é importante porque desde o início da pandemia de COVID-19, anunciada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), em março do ano passado, o papel fundamental da ciência no enfrentamento da doença tornou-se essencial para a superação da crise sanitária.
No primeiro dia do evento, o médico infectologista Júlio Croda, pesquisador da Fiocruz, Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e coordenador da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose, apresentou mapas e índices das principais doenças negligenciadas no Brasil a partir da sua vasta experiência como pesquisador e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), que tem atuado no enfrentamento da pandemia.
Júlio destacou causas, origens, tipos, vetores e a importância da
prevenção, do diagnóstico e tratamento das doenças, cujos determinantes são, sobretudo, a falta de condições socioeconômicas e ambientais adequadas, além do baixo investimento em pesquisa e políticas públicas. Anualmente, as doenças causam entre 500 mil e 1 milhão de óbitos no planeta.
Para erradicar as doenças negligenciadas, precisamos combater a pobreza e a desigualdade social. As regiões Norte e Nordeste, que têm o menor índice de desenvolvimento humano (IDH), são as que mais sofrem com essas enfermidades causadas por vírus, bactérias, protozoários e vermes.
Fatores como a falta de planejamento urbano, que contribui para o crescimento de comunidades carentes, falta de acesso a serviços básicos como tratamento de água e esgoto, alta densidade demográfica, desemprego, carência de serviços de saúde, educação para prevenção e produção agrícola de qualidade, além de fatores individuais – predisposições hereditárias, idade e sexo – fazem parte da mandala que determina processos de saúde e doença, explica Croda.
O médico ressaltou a importância da vacinação contra a febre amarela, que de acordo com avaliações epidemiológicas evitou surtos de contaminação nas grandes cidades. Na área de imunização, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) destaca-se internacionalmente como o maior fabricante da vacina antiamarílica, enquanto o IOC/Fiocruz é referência regional para febre amarela junto ao Ministério da Saúde.
Além da participação dos pesquisadores da Fiocruz, convidados muito especiais apresentaram suas experiências nas escolas. As alunas Tarsila Alves (PE) e Mirian Fabiano (SP) brilharam ao apresentar produções textuais premiadas na última edição da Obsma. Tarsila, que ficou sabendo da Olimpíada pelas redes sociais, desenvolveu um trabalho sobre saneamento básico e filariose linfática, mais conhecida como elefantíase, muito presente em Pernambuco.
Por meio de um conto literário e da intertextualidade com artistas como a banda Nação Zumbi e o escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto, a aluna denuncia o descaso político e social em sua cidade.
Professora de produção de texto há quase 30 anos, a convidada Elaine Batista (GO) ficou emocionada com a fala das alunas e destacou a importância do caráter pioneiro das Olimpíadas para a sensibilização e exercício da criatividade na prática educacional. Ainda há muita desinformação e descuido da população no combate a essas doenças. “Em Anápolis, minha cidade natal, ainda temos o registro de quase 11 mil casos de dengue. Precisamos apostar na educação”, defendeu a professora.
No segundo dia de oficina, Pedro Albajar, doutor em Medicina Tropical pela Fiocruz, falou diretamente de Genebra, na Suíça, onde atua como oficial- técnico do Departamento de Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS. Albajar, que estudou medicina em Barcelona, fez um Master of Science na famosa Escola de Higiene e Doenças Tropicais de Londres e desde
1990, quando começou a trabalhar na Amazônia, se dedica ao controle da Doença de Chagas.
De acordo com Pedro, a Amazônia, que abarca diversos ecossistemas, concentra o maior número de casos agudos no mundo. Imigração, mudanças climáticas, falta de saneamento e o aquecimento global, que chegou a alarmante marca de 98% do nosso planeta, foram elencados como principais fatores de transmissão da doença.
Além dos impactos da COVID 19, o médico destacou também a dimensão política e psicossocial das doenças negligenciadas, que deve ser debatida por meio da interlocução nas escolas. Pedro chama a atenção para a atual mudança da pirâmide demográfica, que aponta o inédito aumento de pessoas idosas e o grande desafio em lidar com um cenário de envelhecimento e comorbidade nos países mais pobres.
O especialista enfatizou ainda o novo Roteiro para Doenças Negligenciadas, aprovado por todos os países da OMS e alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Trata-se do esforço para estabelecer e
alcançar metas e objetivos de impacto para prevenção, controle e eliminação das doenças no período de 2021 a 2030.
Precisamos aproveitar a revolução digital para pensar fora da caixa e propor estratégias para inovação, metodologia, detecção precoce, acompanhamento e compreensão multidimensional do problema. O Brasil foi pioneiro em incluir pacientes crônicos com Doença de Chagas dentro do sistema de informação. Precisamos apostar em uma comunicação capaz de dialogar com diferentes atores sociais, lembrando que somos todos coautores nessa construção. O trabalho da OBSMA é muito importante porque possibilita uma plataforma de projetos pedagógicos para compartilhar ideias e empoderar a comunidade, de igual para igual, diz Albajar.
A aluna Andreza Copelli (RJ), que participou do Programa de Vocação Científica (Provoc), com orientação da pesquisadora AngelaÂngela Junqueira, apresentou seu trabalho premiado sobre a Doença de Chagas na região amazônica do Rio Negro. A jovem produziu um livro, com versão
audiovisual e em braile, acerca da prevenção e conscientização de trabalhadores envolvidos na produção de açaí, fruto típico do Amazonas. Atualmente, a principal forma de transmissão da doença ocorre por meio de ingestão de suco de açaí contaminado.
Premiado na última edição da Obsma, o professor ribeirinho Valter Pereira, do município de Parintins (AM), debateu o projeto de ciências Eco-Clean: prática sustentável para se ter água, que virou tese de mestrado e chegou a implementar melhorias sanitárias por meio de fossas ecológicas na região, reduzindo em 90% sintomas como febre e diarreia, decorrentes da
contaminação do lençol freático. O projeto ficou entre os dois melhores do mundo no Prêmio Global Teacher Prize da Fundação Varkey de Dubai, sendo apresentado pelo professor nos Emirados Árabes.
A 8ª Oficina Pedagógica Online foi organizada pela Regional Sudeste da Olimpíada da Fiocruz, atualmente sediada no Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC. Sob a coordenação da Dra. Martha Suárez-Mutitis e Dra. Ângela Junqueira, pesquisadoras titulares da instituição, a Regional vem se reestruturando e assumiu esse enorme desafio de trazer o tema das doenças causadas por agentes infecciosos ou parasitas e consideradas endêmicas nas populações de baixa renda.
A data da Oficina foi escolhida para dar destaque ao Dia Mundial da Ciência e mostrar que o planeta necessita, mais do que nunca, da ciência para dar respostas ao conjunto de problemas que precisamos enfrentar para construir um futuro sustentável para todos.
A íntegra de todas as Oficinas está disponível no Facebook Obsma. Acompanhe as novidades no site e em nossas redes sociais!