Equipe da Olimpíada tem aula sobre doença de Chagas
Nesta quarta feira, 11/2, a equipe da Coordenação Nacional da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente/Fiocruz (Obsma) realizou o primeiro evento de 2015: uma aula sobre doença de Chagas preparada pela equipe do Laboratório de Doenças Parasitáriasdo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Ministrando a atividade, contamos com a presença dos pesquisadores dr. José Rodrigues Coura, chefe do Laboratório, dra. Ângela Junqueira e a doutoranda Amanda Coutinho, que introduziram e aprofundaram algumas questões acerca da doença. A aula prepara a equipe da Obsma para as Oficinas Pedagógicas que, este ano, irão a alguns municípios da região amazônica onde há ocorrência da doença de Chagas. A aula ocorreu na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, na Fundação Oswaldo Cruz.
A seguir, confira os principais pontos abordados pelos pesquisadores:
Diferentes interações entre o barbeiro e o homem
A enfermidade foi descoberta em 1909 pelo médico e cientista Carlos Chagas e, apesar do avanço nas pesquisas, ainda não há vacina que a combata. Na aula dada à equipe da Olimpíada e alguns convidados, dr. Coura, especialista em doença de Chagas e membro da Academia Nacional de Medicina, explicou que uma das formas mais comuns de o triatomíneo, inseto conhecido popularmente como ‘barbeiro’, chegar até o homem é quando o espaço físico apresenta profundo desequilíbrio ecológico, pois isso acaba afastando os animais silvestres que antes eram fontes naturais de alimento para o inseto hematófago (que se alimenta do sangue de mamíferos).
Assim, os barbeiros se adaptam ao domicílio humano e quando estão infectados com o parasita Trypanossoma Cruzi, transmitem a doença através das fezes que deixam próximas à sua picada. Então, o parasita é liberado na corrente sanguínea quando entra em contato com mucosas (nariz, olhos, boca) e principalmente através da ferida causada quando quem sofre a picada coça o local. Além dos vetores, outras formas de se adquirir o parasita são a transfusão de sangue, durante o parto, transplante de órgãos e ingestão de bebidas e alimentos infectados.
No entanto, para além da presença dos barbeiros nas casas, a região amazônica apresenta um cenário específico que chama a atenção: “Tudo o que se investiu no Brasil até hoje foi pensado no cenário clássico da doença, onde há convivência do homem e o hospedeiro dentro de casas de pau-a-pique. A situação amazônica é totalmente diferente. Lá os homens têm contato com esse vetor ao irem para a floresta, onde muitos trabalham com extrativismo de piaçaba, e também ao tomarem o suco de açaí.”, mostrou a pesquisadora Ângela Junqueira.
Transmissão da doença por via oral na Amazônia
Segundo Ângela, entre os anos de 2000 e 2011, configurou-se este novo cenário na região com a detecção de mais de 1.200 casos, 70% deles ocasionados possivelmente por via oral. Ela explica que há uma alta suspeita em relação a esse tipo de contaminação, porque a partir de estudos sobre a forma de se contrair a doença de Chagas, percebeu-se que quando há mais de um caso num mesmo período e na mesma região, é pouco provável que tenham sido provocados somente pelo vetor (barbeiro).
O consumo do açaí fresco é um dos fatores que mais chama atenção como causador da doença de Chagas. Amanda Coutinho, doutoranda em Medicina Tropical, analisa que não chegaram a ser encontrados os insetos vetores alojados na palmeira do açaí. Portanto, o que poderia explicar a questão é que, depois que os frutos são colhidos e ficam aguardando o momento de serem moídos, eliminam substâncias que atraem o barbeiro em busca de alimento. Ele então seria processado junto ao açaí e ingerido pelo ser humano.
É muito comum na região Norte o consumo de açaí fresco, recém batido. Com isso, um dos principais objetivos das pesquisas feitas com as populações amazônicas é procurar incentivar mudanças de hábitos como, por exemplo, uma melhor lavagem desse alimento e a recomendação do uso do mosquiteiro ao dormir, o que ajuda a combater as infecções tanto de Chagas quanto de malária.
Comunicação e educação em saúde são fundamentais
Cristina Araripe, coordenadora nacional da Obsma, frisou que estavam presentes no encontro profissionais da Olimpíada com diferentes formações, como pedagogia, jornalismo e sociologia, mas todos com um objetivo comum de disseminar informação sobre saúde e meio ambiente, principalmente nas escolas.
“Um dos objetivos da Olimpíada é despertar o melhor dos professores e mostrar isso para todo o país”, enfatizou. Ela afirmou ainda que para chegar até eles e os alunos, capacitando-os para serem também disseminadores de informações, deve-se estreitar a relação com a realidade das populações locais. Para isto, apontou dr. Coura, é necessário atenção até mesmo à linguagem: “No Amazonas, por exemplo, o triatomíneo, o barbeiro, é chamado de ‘piolho da piaçaba’”.
Ângela Junqueira defendeu que é preciso um trabalho constante neste sentido: “É necessário gerar mudança de comportamento em quem convive com o risco de adquirir Chagas a partir da educação em saúde, e não é tarefa simples. Tem que haver vigilância e controle em longo prazo, de maneira uniforme e continuada, se não, nada muda.”
Perspectiva de tratamento
De acordo com os pesquisadores, na fase aguda da doença (um a três meses após a contaminação), ela ainda pode ser contornada com medicamentos. Já na fase crônica, as complicações devem ser acompanhadas para que se tenha uma melhor qualidade de vida, pois pode haver comprometimento dos sistemas cardíaco, digestivo e na musculatura, que são irreversíveis. A educação em saúde também é muito importante para conscientizar a população sobre Chagas.
Sobre as oficinas pedagógicas da Olimpíada
Em 2014, o projeto das Oficinas Pedagógicas da Olimpíada levou equipes multidisciplinares de profissionais a oito cidades para oferecer atividades de capacitação a educadores interessados em abordar as temáticas de saúde e meio ambiente em sala de aula, utilizando recursos relacionados a projetos de ciências, produção de textos e produção audiovisual, que são as três modalidades da Obsma. As oficinas, realizadas desde 2013 com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foram pensadas como uma ação para sensibilizar professores de diversos lugares no Brasil ao diálogo que pode haver entre a educação e os temas saúde e meio ambiente. As oficinas estiveram nas cidades: Petrópolis (RJ), Sobral (CE), Brasília (DF), Palmas (TO), Rio Branco (AC), Maceió (AL), Niterói (RJ) e Rio do Sul (SC).
Em 2013 a OBSMA ofereceu oficinas pedagógicas em seis cidades brasileiras: Recife (PE), Fortaleza (CE), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Manaus (AM) e Salvador (BA). Informações sobre datas e locais das oficinas de 2015 serão divulgadas em breve aqui no site e nas redes sociais da Olimpíada.
Abaixo, confira algumas fotos da aula de doença de Chagas. Mais imagens no Flickr da Olimpíada.
Texto aula de Chagas: Anna Carolina Düppre
Edição e texto Oficinas: Ariane Mondo