Evento sobre olimpíadas de conhecimento abordou experiências da Obsma e Olimpíada de Astronomia
A Coordenação Regional Sudeste da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz (Obsma)participou, dia 29 de abril no Rio de Janeiro, do seminário organizado pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) para discutir a atuação de olimpíadas brasileiras de conhecimento. Promovido pelo curso de Especialização em Divulgação e Popularização da Ciência, o evento voltado a estudantes da pós-graduação e ao público interessado tratou da temática a partir das experiências da Obsma e também da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).
Os pesquisadores Ana Lucia Soutto Mayor, coordenadora da Regional Sudeste, e Eugênio Reis Neto, vice-coordenador nacional da OBA, levaram aos pós-graduandos da Especialização perspectivas sobre como estas olimpíadas se organizam, suas trajetórias e desafios para a divulgação científica na educação básica.
Medalhas incentivando o gosto pela astronomia
Astronomia não faz parte do currículo da maioria das escolas. Então, como uma olimpíada desta natureza se dá na educação básica? Para Eugênio Reis Neto, a astronomia é uma ciência muito conhecida por nós e isso ajuda a diminuir possíveis barreiras: “Não se passa um dia sem termos uma notícia sobre astronomia na televisão ou nos jornais, então todo mundo sabe um pouquinho de astronomia”, analisou o divulgador científico. Ele explicou que as provas da Olimpíada são pensadas justamente para o professor que deseja desenvolver o tema com os alunos mesmo que não tenha conhecimentos aprofundados neste campo de estudo.
A OBA é voltada a estudantes desde o 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio e teve, em 2018, mais de 8,4 mil escolas inscritas. Para Eugênio, as olimpíadas têm o poder de levar aos estudantes de educação básica motivação e desejo pelo conhecimento, além de trazerem muitos benefícios para a vida escolar. Encarar o desafio de uma olimpíada de conhecimento, observou ele, gera oportunidades de se aprofundar num tema que o aluno gosta, melhora seu rendimento na escola, aumenta as chances de conseguir uma bolsa de estudos, aproxima estudantes, professores e pesquisadores, incrementa o currículo e é um treinamento para a etapa do vestibular. Lembrou ainda que instituições como a Unicamp valorizam a participação do estudante em olimpíadas — a Universidade Estadual de Campinas é a primeira do país a destinar vagas a medalhistas em olimpíadas de conhecimento.
Anualmente, desde 1998, a OBA vem distribuindo muitas medalhas a alunos e professores que se destacaram na prova, que é aplicada pelos próprios docentes, em todo o Brasil, e há também os estudantes que são levados a competições internacionais depois de terem atingido boas classificações em âmbito nacional.
Eugênio destacou que um dos importantes desdobramentos da OBA são os Ereas (Encontros Regionais de Ensino de Astronomia). Com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a OBA organiza a atividade voltada a docentes de astronomia, ciências, geografia e física em diversas cidades desde 2009. Em um Erea, a capacitação é feita, por exemplo, com oficinas de observação do céu ou montagem de aparatos simples, a partir de conceitos de astronomia básica. Há ainda um planetário itinerante, que atende atualmente até 20 mil estudantes por ano em todo o país, além da Mostra Brasileira de Foguetes (MobFog), outro desdobramento da Olimpíada que teve grande aumento no número de cidades participantes nos últimos anos, contou Eugênio.
Saúde e meio ambiente nas práticas em sala de aula
A Obsma, projeto da Fundação Oswaldo Cruz para a educação básica, teve início em 2001 e, de lá para cá, veio ampliando suas atividades, seu alcance e o número de escolas participantes de todo o Brasil tem sido cada vez maior. A 10ª edição acontece no biênio 2019-2020 e estão previstas diversas ações comemorativas pelos 20 anos da Olimpíada.
Para compartilhar experiências vividas pelo projeto, a coordenadora regional Ana Lucia Soutto Mayor — professora da educação básica aposentada e pesquisadora na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) — esteve presente no evento e tratou das abordagens coletiva, multidisciplinar e voltada à atuação do professor que orientam a Obsma e suas Oficinas Pedagógicas.
As Oficinas Pedagógicas de formação continuada de professores da rede pública — projeto que existe desde 2013, com apoio do CNPq —, “são as atividades ‘coração’ da Olimpíada”, definiu Ana Lucia. Elas são organizadas por uma equipe mobilizada em diversos polos regionais da Fiocruz no Brasil e já foram realizadas em várias cidades, sempre em parceria com secretarias e demais instituições públicas. São uma oportunidade de levar pesquisadores da Fiocruz e pesquisadores locais para ministrar palestras, fornecer materiais, propor atividades práticas e dialogar diretamente com os professores. Nas Oficinas são abordadas especialmente questões de saúde e meio ambiente relacionadas àquele território, utilizando-se ainda diferentes linguagens como a científica, a textual e a audiovisual.
“O objetivo é também levarmos e apresentarmos aos docentes os materiais em acesso aberto que a Fiocruz disponibiliza, seja em formato impresso ou em CDs e, principalmente, online” apontou Ana, referindo-se à vasta produção educacional e científica da Fiocruz que está disponível a toda a sociedade, regida pela Política de Acesso Aberto da instituição. Há uma série de materiais da Fundação que podem servir de apoio para o trabalho em sala de aula e a coordenadora regional reforçou que é importante colocar o professor em contato com estes recursos para que ele tenha boas fontes de pesquisa e enriqueça os projetos que elabora com seus alunos. Citando um exemplo do que é compartilhado nas Oficinas, a coordenadora destacou os conteúdos da plataforma Campus Virtual.
Ana Lucia conta que, com isso, os conhecimentos produzidos na Fundação são socializados com uma rede de professores de diversas disciplinas e diferentes partes do país, e esta atuação da Obsma em sua proposta de divulgação científica consegue abranger até escolas no interior, onde a chegada destas fontes costuma ser mais difícil. A pesquisadora ressalta que os saberes locais são também parte deste conhecimento compartilhado nas Oficinas, o que as torna muito ricas tanto para o grupo de professores quanto para os palestrantes.
Ela acrescentou que as ações da Olimpíada vêm sendo ampliadas no sentido de conhecer mais sobre a atuação dos docentes e o que os alunos estão produzindo a partir do trabalho pedagógico: “Desde 2017, temos também atuado na pesquisa, para que possamos pensar sobre a produção dos alunos que tiveram trabalhos premiados na Obsma e as práticas pedagógicas em saúde e meio ambiente que estão por trás destes projetos”.