Você já pensou em ser cientista? Um dos jeitos de começar a trilhar esse caminho pode ser concorrendo ao Prêmio Menina Hoje, Cientista Amanhã. Oferecido pela Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma), o prêmio vai selecionar um trabalho ou projeto inscrito na Olimpíada que tenha sido desenvolvido por alunas e professoras do gênero feminino.
Comprometida com a promoção da igualdade de gênero na ciência, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está em consonância com as diretrizes da ONU, particularmente da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Com o prêmio, a Obsma afirma seu compromisso com o incentivo de carreiras científicas para meninas e jovens mulheres nas áreas de ciência e tecnologia. Queremos mais mulheres cientistas!
Grandes cientistas da história e suas trajetórias profissionais serão homenageadas em cada uma das edições do Prêmio Menina Hoje, Cientista Amanhã. Nessa edição, a escolhida é Maria Deane.
Para concorrer ao prêmio, basta se inscrever normalmente na Olimpíada e escolher a opção de participar do prêmio no formulário de inscrições. O trabalho pode atender a qualquer uma das modalidades. Mas lembre-se: você deve ser uma menina e… gostar muito de ciência!
Quem foi Maria Deane?
Paraense, cientista pioneira e autora de mais de cem produções. Conheça Maria von Paumgartten Deane, primeira mulher a assinar um artigo na revista editada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC)
Ela fez descobertas incríveis! Maria von Paumgartten Deane foi uma lendária protozoologista que registrou diversas descobertas significativas sobre leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas. Foi ela quem descreveu, pela primeira vez, o duplo ciclo de multiplicação do Trypanosoma cruzi (agente causador da doença de Chagas) em gambás. Sua produção científica é extremamente original. Além de uma cientista pioneira, ainda na década de 1930, formou-se médica e viajou por todo o interior do Brasil para investigar doenças que continuam a ser negligenciadas. Enérgica e de personalidade forte, Deane dedicou boa parte de sua vida para estimular a formação de profissionais de saúde. Também esteve envolvida na consolidação de unidades de ensino e pesquisa em várias instituições, como o Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Carabobo (Venezuela). Na Fiocruz, o Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia) é também uma homenagem às suas incontáveis contribuições.
Especial sobre a cientista Maria Deane, uma mulher à frente do seu tempo
A contribuição científica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz é resultado do esforço cotidiano de pesquisadores empenhados no enfrentamento de importantes problemas de saúde pública – homens e mulheres que, em 108 anos de história, contribuíram para a produção de conhecimento na área da saúde e firmaram-se como ícones da ciência brasileira. É o caso da protozoologista Maria Deane (1916-1995), que registrou significativas descobertas sobre leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas durante sua carreira científica, iniciada em 1936, no Pará, sua terra natal. Em julho de 2008, o IOC prestou uma homenagem à pesquisadora por sua extensa contribuição científica, com a inauguração do Auditório Maria Deane, localizado no pavilhão que recebe o nome de seu marido e colaborador científico, Leonidas Deane.
Uma das mais importantes descobertas da pesquisadora Maria Deane foi registrada em 1984, quando ela atuava como chefe do então Departamento de Protozoologia do IOC. O estudo descreve pela primeira vez o duplo ciclo de multiplicação do agente etiológico da doença de Chagas, o Trypanosoma cruzi, no gambá, reservatório mais antigo do parasito. Os resultados esclarecem a dinâmica de transmissão oral do parasito por este animal e representam contribuição fundamental para a compreensão da epidemiologia da doença em áreas livres de barbeiros domiciliados.
Mais que uma cientista pioneira, Maria Deane foi uma mulher à frente de seu tempo: na década de 1930, formou-se em medicina, tornou-se cientista e desbravou o interior do país para investigar doenças até hoje negligenciadas. Uma trajetória condizente à sua produção científica extremamente original, que até hoje levanta discussões. Decidida, dona de personalidade forte, Maria Deane não tolerava injustiças. Em sua vida pessoal e durante toda a carreira científica, sempre optou pela defesa de valores como humildade, solidariedade e honestidade.
“Percebi minha vocação para ciência quando, ainda criança, passava tardes inteiras nos laboratórios da Universidade de São Paulo (USP), onde Maria e Leonidas Deane trabalhavam. Cresci com uma visão idealizada do cientista, formada a partir das características que observava em meus tios: o apreço pelo trabalho e o comprometimento com a ciência, independentemente de vaidades pessoais ou status político”, reconhece o sobrinho do casal, o farmacologista Francisco Paumgartten, hoje pesquisador do Laboratório de Toxicologia Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz.
Responsável pela consolidação de unidades de ensino e pesquisa na área da protozoologia em diversas instituições – como o Departamento de Zoologia da USP e o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Carabobo, na Venezuela –, Maria sempre teve a formação de profissionais de saúde como uma preocupação pessoal. O principal exemplo desta motivação é a trajetória de Marcos Antônio dos Santos Lima, motorista da família que se tornou técnico de laboratório por incentivo e investimento da pesquisadora.
“Sempre tive curiosidade sobre a área de pesquisa, mas nunca tive oportunidade de estudar e me dedicar à ciência. Quando percebeu isto, Maria fez questão de me trazer ao laboratório e me ensinar tudo o que sei hoje. Aprendi toda a prática com ela e depois, com o tempo, participei de cursos e capacitações que permitiram que eu me formasse como técnico de laboratório”, conta Marcos, que atua como técnico em pesquisa do Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos do IOC.
“De origem humilde, minha avó enfrentou muitas dificuldades durante a infância. Ela contava que dividia com as duas irmãs um único par de sandálias. Acredito que esta experiência tenha lhe dado o senso de solidariedade e justiça tão marcantes em sua personalidade”, considera Camilo Deane, neto de Maria. “Apesar da postura austera como frequentemente é lembrada, resultado da educação rígida que recebeu da família de origem austríaca, em sua vida pessoal minha avó era uma pessoa carinhosa”, recorda Camilo, destacando o tradicional frango ao curry preparado por Maria aos domingos, ao som de música clássica.
Autoria: Bel Levy (Comunicação/Instituto Oswaldo Cruz) – 22/07/2008